Ao nos conectarmos com nossa história, não só compreendemos nosso passado, como também forjamos nossa identidade e aspirações futuras.
» Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sociólogo, professor, mestre e gestor cultural.
» Rafael Parente, professor, PhD em educação pela Universidade de Nova York. Foi secretário de Educação do DF e subsecretário de novas tecnologias educacionais, na secretaria de Educação do município do Rio de Janeiro.
No aniversário da tentativa de golpe de 8 de janeiro no Brasil, fomos lembrados da preciosidade da nossa democracia. Esse momento histórico sublinha a importância crucial da educação como guardiã de nossos valores democráticos. Como Darcy Ribeiro sabiamente disse: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”. Essa afirmação ressoa fortemente agora, enfatizando que a preservação da nossa democracia começa com uma educação intencional e robusta.
A educação patrimonial, em particular, desempenha um papel central na formação de cidadãs e cidadãos conscientes e comprometidos com a democracia. Ao nos conectarmos com nossa história — pelos museus, movimentos culturais, sítios históricos ou prédios antigos —, não só compreendemos nosso passado, como também forjamos nossa identidade e aspirações futuras. Esses espaços não são apenas armazéns de artefatos, eles são cápsulas do tempo que nos contam histórias de lutas, esperanças e sonhos.
Museus e locais históricos são palcos vivos onde o passado encontra o presente, nos ensinando sobre a complexidade e a beleza da jornada humana. Eles destacam as lutas que moldaram nossa democracia, permitindo-nos valorizar e defender os princípios democráticos que tanto prezamos.
A educação patrimonial também promove o pensamento crítico, essencial para a saúde de qualquer democracia. Ela nos desafia a questionar, analisar diferentes perspectivas e respeitar a diversidade — tudo isso essencial para uma cidadania ativa. Ao aprender com o passado, somos equipados para não repetir os mesmos erros, garantindo um futuro mais justo e brilhante.
Para isso, devemos nos comprometer com uma educação de qualidade e acessível para todos. A educação é o alicerce sobre o qual uma democracia saudável se apoia. Investir na educação e na preservação do nosso patrimônio é investir no futuro da nação.
Só somos capazes de amar aquilo que conhecemos. Precisamos, com a educação patrimonial, aproximar as pessoas de seus territórios, de seus locais de afeto, de seus patrimônios. Criar a possibilidade de as pessoas conhecerem, entenderem e, a partir daí, valorizarem. Fazê-las não apenas admirar, mas se aproximar, vivenciar, participar e cuidar do nosso patrimônio cultural.
O 8 de janeiro também é consequência do distanciamento de uma parcela da população de seu patrimônio e de sua história. Além de preservar, precisamos ir além e ver o patrimônio como instrumento do desenvolvimento, na medida em que gera emprego, une as pessoas, integra a sociedade. O patrimônio interage com o turismo, com o meio ambiente, com a geração de renda, com a educação e, obviamente, é um grande elemento de promoção cultural.
A data precisa continuar sendo memorada, para que não se repita. É um evento da história que deixou suas marcas. Tivemos prédios, objetos e obras de arte destruídas, danificadas e até roubadas. A maior parte das peças foi ou está sendo restaurada.
Foi um crime, uma barbárie, uma tragédia. Para os brasilienses, uma tristeza ainda maior ao vermos os locais por onde passamos desde criança destruídos com tantas marcas de ódio.
A resposta rápida que foi dada graças à união de esforços entre as equipes do governo federal e dos Três Poderes foi importante também para o Brasil reafirmar e atestar sua soberania institucional e sua soberania para a preservação de seu patrimônio cultural.
Para além disso, a data deixa seus desafios, o maior deles o de fortalecimento de nossa democracia. Além de marcar a importância de cuidarmos de nosso patrimônio cultural, nesse dia significativo, reafirmamos que a salvaguarda da nossa democracia está nas mãos de cada cidadão. O Brasil venceu, a democracia venceu, o povo brasileiro venceu.
Precisamos lembrar do 8 de janeiro para conscientizar, para fazer memória. Precisamos apontar caminhos para que o povo brasileiro, cada vez mais, valorize e viva a democracia. E essa proteção começa com uma educação que celebra, respeita e valoriza nossa rica história e cultura. Com ela, asseguramos que as lições do passado iluminarão nosso caminho para um futuro democrático robusto e inclusivo. Com essa convicção, marchamos adiante, inspirados pelo legado de nossos antepassados e movidos pela esperança de um Brasil melhor para as gerações futuras.
>> Ilustração: Educação patrimonial: a salvaguarda da democracia brasileira, Caio Gomez